DEPRN / DUSM - Equipe Técnica de Mogi das Cruzes
As florestas e os mananciais O texto abaixo é parte de um estudo promovido pela WWF em cooperação com o Banco Mundial. O objetivo foi pesquisar a importância das áreas protegidas para o suprimento de água. Foram analisadas as condições do suprimento de água das 105 maiores cidades do mundo, considerando-se suas populações. O que as florestas podem oferecer A maioria da água potável mundial vem de mananciais que são, ou deveriam ser, naturalmente florestados. Parece haver uma conexão clara entre as florestas e a qualidade da água de um manancial, uma conexão mais esporádica entre florestas e a quantidade de água disponível e uma conexão variável entre florestas e a constância do fluxo de água, característica esta que depende do tipo e da idade da floresta. As florestas, por outro lado, geralmente oferecem as bases para um manejo integrado dos recursos de água, embora seus efeitos precisos variem de lugar para lugar. O conhecimento que envolve o tipo e a idade das árvores, as condições do solo e as necessidades dos usuários pode ajudar a determinar a forma mais benéfica de manejo das florestas. A perda da cobertura florestal e a conversão dessa cobertura em outras formas de uso da terra podem afetar as fontes de água de maneira adversa, ameaçando a sobrevivência de milhões de pessoas e danificando o ambiente. FAO, USA O manejo integrado dos reservatórios de água está baseado na percepção da água como parte integrante do ecossistema, um recurso natural e ao mesmo tempo, um bem social e econômico, cuja qualidade e quantidade determinam a natureza de sua utilização. Por causa disso, os reservatórios de água têm que ser protegidos, levando-se em consideração o funcionamento dos ecossistemas aquáticos e a perenidade dos recursos para satisfazer e reconciliar as necessidades por água nas atividades humanas. Agenda 21 Quantidade, qualidade e regularidade Existe um pressuposto generalizado de que as florestas apresentam uma função importante nos ecossistemas no sentido de manter o suprimento constante de água de boa qualidade. A perda de florestas tem sido condenada em todos os sentidos, e tem sido colocada como causa desde a diminuição do brotamento da água até a aridez, e por perdas catastróficas da qualidade da água. Na verdade, o papel das florestas na hidrologia permanece um assunto de debate. O impacto do uso da terra nas cercanias dos reservatórios de água depende de muitos fatores ecológicos e sócio-econômicos, dificultando as generalizações. Os fatores naturais incluem clima, topografia e estrutura do solo, enquanto os fatores sócio-econômicos incluem habilidade econômica e consciência dos proprietários rurais, práticas de manejo e desenvolvimento de infra-estrutura. O impacto preciso da cobertura florestal dos mananciais no suprimento de água, no entanto, varia dramaticamente de acordo com o local e pode também variar em um mesmo lugar, dependendo de fatores como a idade e a composição das florestas. Qualidade: a preservação das florestas em regiões de mananciais geralmente acarreta um aumento da qualidade da água, mais do que qualquer outra forma de uso da terra. Considera-se que virtualmente, todas as alternativas de uso do solo - agricultura, indústria e residências - são semelhantes no sentido de aumentar a quantidade de poluentes que entram no corpo de água e também porque, em alguns casos, as florestas ajudam a regular a erosão do solo e reduzir o transporte de sedimento. Embora existam alguns contaminantes que as florestas são menos hábeis em controlar - a parasita giárdia, por exemplo, que está se espalhando gradualmente através da América do Norte como uma espécie invasiva - na maioria dos casos, a presença de florestas reduz substancialmente a necessidade por tratamento da água. A questão da qualidade geralmente tem sido o motivador principal nos locais onde as florestas foram protegidas com o intuito de proteger os mananciais. Se as florestas sofrerem algum tipo de manejo e não forem apenas protegidas, o tipo de manejo apresentará um impacto significativo na qualidade da água. Foi demonstrado que a quantidade de sedimento aumenta depois do corte de madeira, mas foi demonstrado também que mudanças no manejo podem reduzir esse dano. A aplicação de fertilizantes sem o devido cuidado pode também resultar na poluição da água e os governos têm controlado o impacto desta e de outras práticas através da legislação. Quantidade: em relação ao fluxo de água, a situação é mais complexa. Apesar de anos de experimentos sendo conduzidos com reservatórios, a interação precisa entre árvores de diferentes espécies e idades, tipos diferentes de solo e práticas de manejo é ainda pouco compreendida, dificultando previsões precisas. O impacto do uso do solo em declive depende de muitas variáveis, a mais importante delas sendo o regime da água da cobertura vegetal em termos de evapotranspiração, a habilidade do solo em conter a água (capacidade de infiltração) e a habilidade da cobertura vegetal de reter umidade. Em contraste com o pensamento comum, muitos estudos sugerem que tanto em florestas muito secas quanto nas muito úmidas, a evaporação parece ser maior nas áreas florestadas que nas áreas cobertas com qualquer outro tipo de vegetação, conduzindo a uma diminuição da água de reservatórios florestados quando comparados, por exemplo, com pastagens ou plantações, embora haja exceções importantes. Por exemplo, uma revisão de 94 experimentos com reservatórios concluiu que o estabelecimento da cobertura vegetal em uma área esparsamente vegetada provocou diminuição na produção de água, devido a uma evapotranspiração maior. O plantio de florestas novas, particularmente de espécies com altas taxas de evapotranspiração, reduziu o fluxo de água. O debate sobre o impacto hidrológico causado pelo eucalipto existe há muitos anos, o que induziu uma revisão produzida pela FAO (USA) que concluiu que as plantações de eucalipto podem consumir uma quantidade maior de água e tornar seu fluxo menos regular do que as florestas naturais. Observações conduzidas na África do Sul indicaram que o aumento do período seco, de baixa transpiração, que seguiu o reflorestamento com espécies de Pinus ou eucalipto reduziu significativamente o fluxo de água nas estações baixas. O plantio de Eucalyptus grandis em pesquisas em reservatórios em Mokobula resultou na total extinção do brotamento de água depois de 9 anos. Quando os eucaliptos foram cortados depois de 16 anos, os fluxos de água perenes secaram por 5 anos, e este longo intervalo de tempo parece ter sido devido a deficiências profundas no solo, geradas pelo eucalipto, o que requereu muitos anos de chuva antes que as condições do campo fossem restabelecidas. Na Tailândia, os programas de reflorestamento também conduziram a diminuição do fluxo de água o que acarretou o fechamento de uma estação de tratamento de água e a baixa disponibilidade de água para irrigação. Em Fiji, um reflorestamento de Pinus em larga escala em um manancial previamente coberto por pastagem conduziu a reduções de 50-60% no fluxo de água da estação seca, colocando em risco a operação de uma hidroelétrica e de um reservatório de água potável. Pesquisas no Nepal sugerem que, somente depois de muitas décadas, um solo uma vez degradado recupera a mesma capacidade de absorver a água da chuva que apresentava quando protegido por uma floresta. As florestas naturais têm uma relação mais complicada com o fluxo de água e em alguns casos, parece haver um aumento nessa taxa. O exemplo mais significativo é o das florestas nebulares, onde as folhas coletam água das nuvens e esta água adicional pode exceder as perdas por transpiração. Trabalhos recentes no nordeste da Costa Rica sugerem que o padrão da formação de nuvens sobre áreas florestadas e não florestadas é diferente. Em adição, algumas florestas muito antigas aparentemente aumentam a quantidade de água disponível. Na Austrália, por exemplo, pesquisas sugerem que Eucalyptus regnans de 200 anos ou mais, aumentam o fluxo de água e dependendo da espécie, as velhas florestas podem consumir menos água que a vegetação que se estabelece depois de corte raso. Em linhas gerais, a evidência parece sugerir que as florestas nebulares e outras florestas naturais antigas podem aumentar a rede de fluxo de água, mas outros tipos de florestas - incluindo particularmente as florestas jovens e as plantações - têm o efeito oposto. Variações locais podem alterar essas tendências gerais. Regularidade: tão importante quanto a quantidade total de água é a questão do fluxo da água, tanto em termos da manutenção do fluxo na estação seca, na redução súbita do brotamento, e no fluxo de água resultante dos períodos de chuva forte. Aqui a opinião permanece dividida e exemplos de respostas bastante diferentes podem ser encontrados: em alguns casos o fluxo nas estações secas é diminuído pela presença de árvores, enquanto em outros casos, ele aumenta. Existem diferenças entre as florestas naturais e as plantações, mas novamente, estas diferenças não mostram uma tendência constante. Existe também pouca evidência que as florestas regulem alagamentos importantes, embora o fluxo seja a razão para proibição de corte de madeira, por exemplo, na Tailândia e partes da China. Uma exceção importante para esta regra geral é as florestas alagadas, que parecem ter um papel regulador no suprimento de água, tanto em florestas de terras baixas como as florestas de várzea na Amazônia, e dos pântanos em regiões mais altas. Além disso, reservatórios florestados podem ter um importante impacto local em regular o fluxo de água, e podem ser, por exemplo, um componente importante da paisagem para as pessoas e comunidades das áreas mais altas. Em adição, a floresta que não foi alterada, com seu solo enriquecido organicamente, é a melhor cobertura para o solo das áreas de mananciais por minimizar a erosão causada pela água. Qualquer atividade - como, por exemplo, coleta de matéria orgânica ou queimada - que remove a proteção do solo, ocasiona aumento de erosão. Ao minimizar a erosão causada pela água, as florestas reduzem o problema do transporte e deposição de partículas de solo nos cursos de água. A suspensão de partículas do solo em reservatórios de água pode ter como conseqüências tornar a água potável ou de irrigação imprópria para uso, ou aumentar demais o custo para torná-la útil. O que as florestas oferecem depende em larga extensão de condições individuais, espécies, idade, tipo de solo, clima, técnicas de manejo e necessidade do reservatório. As informações para gerenciamento dessas áreas são escassas e modelos de previsão de respostas em reservatórios individuais são no mínimo, apenas aproximações. Resumo das conclusões dos estudos realizados
Referência DUDLEY N. & STOLTON, S. (ed) Running Pure: The importance of forest protected areas to drinking water. 2003. A research report for the World Bank / WWF Alliance for Forest Conservation and Sustainable Use. |